I
Quando criança, colecionava medos.
O cuco anunciava a hora da cama, eu cobria a cabeça com o lençol.
Tinha medo do escuro, do Homem do Saco, da ira de Deus e do fim do mundo.
Tinha medo especialmente do Bicho Papão!
II
Entre comédias e dramas, o menino criou asas, cresceu.
Chutou o balde dos medos,
fisgou estrelas no anzol;
montou a vida em pelo,
dançou sapateado no breu.
O relógio cuco quebrou,
doaram a relíquia pro museu.
III
Um belo dia descubro:
No escuro, a vista descansa.
Deus é um cara bacana.
O Homem do Saco, coisa de adulto sonso.
E o Bicho Papão?
O meu Bicho Papão sou eu.